sexta-feira, abril 05, 2019

Entrevista com Eskröta


Sem dever nada a ninguém e com muita gana e força de vontade, a Eskröta mete o pé na porta e enfia o dedo na ferida. Doa a quem doer, a mensagem é clara, direta e transmitida com sucesso. Assim é seu som, suas letras e sua conversa. Transparência nas propostas, fazendo o que gostam e sem puxar o saco de ninguém. Assim vão conquistando o merecido espaço no underground nacional. Após lançar o primeiro EP "Eticamente Questionável" (confira a resenha feita pela Morticínio Produções) no meio de 2018 e se apresentar ao lado de grandes nomes nacionais, a banda se reabastece e acelera no metal underground. Conversamos com a vocalista e guitarrista Yasmin Amaral sobre a história da banda, preconceitos, a cena underground, dentre outras coisas. Confira:

A Eskröta surgiu em meados de 2017 como um quarteto, mas acabou se firmando como um trio. O que pesou na decisão de permanecerem somente em três integrantes? A banda funciona melhor dessa maneira?

Yasmin: No início da banda, a ideia era que eu ficasse apenas como guitarrista e realmente houvesse quem se dedicasse ao vocal. Após a saída da Mars (ex-vocal), ainda fizemos um teste com a Letícia (S.U.C) e rolou super bem, porém com as viagens que estavam surgindo, a viabilidade de levar apenas 3 pessoas era bem maior. Além da questão de composição, que já estava bem alinhada entre nós 3 e inserindo uma outra pessoa, talvez isso bagunçasse um pouco nossa organização. Por isso, decidimos seguir como trio.

Em seus shows, logo de cara vocês se apresentam ao público como uma banda feminista. Na sua visão, o público respeita essa postura? O metal ainda é um ambiente conservador?

Yasmin: Muitas vezes somos aplaudidas, principalmente pelas mulheres que sempre estão fortalecendo a cena. Mas há uma grande parcela do público que ainda torce o nariz para isso e tenta “argumentar” conosco. O metal tem sua frente antifascista, mas tem muito conservador e é para essas pessoas que devemos mostrar que temos força com nosso som. Enquanto eles ficam irritados, nós alcançamos cada vez mais mulheres abordando temas feministas.

Por ser uma banda formada exclusivamente por mulheres, vocês sentem alguma diferença de tratamento por bandas, produtores ou público?

Yasmin: Com certeza. Ouvimos muitas vezes que só conseguimos tocar em alguns lugares e ter certas oportunidades por conta do nosso sexo. Pasme, mas já ouvimos isso de outras mulheres também. “Ah, banda de mulher é mais fácil, tem mais exposição…” - só de ouvir isso você já sente a diferença. Porém, não estamos há pouco tempo tocando, então já esperávamos esse tipo de comentário.

Como vocês enxergam a cena feminina no metal mais pesado atualmente? Há alguma banda na qual se inspiram ou simplesmente admiram?

Yasmin: A cena das bandas, produções e coletivos feitos por mulheres está simplesmente fantástica. De norte à sul do país, tem muita coisa boa. Estamos com uma parceria com a banda Afronta de Fortaleza, além dos selos Crust Or Die (Débora Molina), Perna Torna (Thaís Aguiar), Brutal Grind (Juliana Ornellas), Capilebre (Ju Ghazi) e por aí vai. Todas as bandas que se formam são uma inspiração para nós, seria injusto citar apenas cinco ou seis, por isso vou pedir para que a galera siga o perfil da União das Mulheres do Underground para conhecer as milhares que temos espalhadas pelo Brasil. De referências clássicas, o L7 e Hole são as bandas que mais ouvimos.

O crossover permite que vocês transitem mais entre estilos, participando de eventos de metal, hardcore, grindcore, etc. Há algum tipo de evento onde vocês se sentem mais “em casa”?

Yasmin: Essa é uma pergunta muito interessante! Quando decidimos que a banda seria crossover, pensamos justamente nisso, em poder participar de diferentes tipos de evento. Até o momento, os eventos que mais nos acolhem e nos tratam com dignidade são aqueles produzidos por mulheres, não importa se é o Bruxaria Fest (Brasília, diversos tipos de bandas) ou se é o Maniacs Metal Meeting (Rio Negrinho, evento de metal). Nos surpreendemos em ver que todos os estilos nos fazem ter essa sensação de conforto!

Como você mencionou, em 2018, a Eskröta foi uma das atrações do festival Maniacs Metal Meeting. Conte-nos sobre como foi a experiência e o convite para o evento.

Yasmin: FODA! Fizemos vários vídeos e stories acompanhando a viagem porque simplesmente não acreditávamos. Desde o convite feito pela Liziane (produtora do MMM), até a recepção na chácara, passagem de som, alimentação… Poucas pessoas sabem, mas esse festival é organizado majoritariamente por mulheres e isso é incrível. Foi um prazer poder conhecer bandas como Wargore, o Facada (pessoalmente), 7peles, a Steph (canal Flashbanger)... foram muitas pessoas, muito conteúdo bom para absorver em apenas 2 dias. Estamos muito gratas pela oportunidade!

Atualmente vocês estão se apresentando com diferentes bateristas pela ausência temporária da Miriam Momesso, integrante oficial da banda. Como foi e como está sendo a adaptação dos bateristas substitutos? Vocês tinham preferência por uma mulher para substituir a Miriam ou isso foi indiferente?

Yasmin: Com certeza, queríamos que outras mulheres fizessem parte da história da Eskröta, porém não é fácil encontrar quem esteja disposto a viajar com uma banda que não é sua. Nós entendemos isso e empatizamos. No momento, o Jhon França (Cerberus Attack) é quem está nos acompanhando até a volta da Miriam para o Brasil. Ele abre mão de muita coisa para estar conosco e isso nos emociona demais… Não poderíamos estar mais agradecidas.

Cada uma de vocês mora em uma cidade do interior paulista. Como é a logística da banda? É fácil conciliar horários para ensaios e reuniões?

Yasmin: Na verdade, eu moro em São Carlos e a Tamy e Miriam moram em Rio Claro, então é relativamente perto. Mas, antes de um ensaio, tentamos compor em casa, levar algumas ideias prontas para aproveitar o tempo de estúdio.

Como foi trabalhar com a guitarrista Prika Amaral da Nervosa na masterização do CD?

Yasmin: O EP como um todo foi uma experiência e tanto para nós. Gravamos tudo com o Léo (Surra) em 2 dias, ficamos meses trabalhando em timbres e efeitos. Porém, faltava a masterização. A Prika surgiu como um anjo! Combinamos com ela como seria feito esse trabalho e rolou maravilhosamente bem. Ela é uma excelente profissional, entendeu nossa proposta, nos deu todo o suporte, além de ser uma grande amiga nossa.

Eskröta - Eticamente Questionável (2018)

O primeiro registro de uma banda independente é sempre um momento marcante. O EP como um todo, atingiu às suas expectativas?

Yasmin: Superou nossas expectativas. Ele nasceu como um EP simples de divulgação, porém ele ficou muito completo, da forma com que a gente nunca sonhou… A gente canta as músicas e ainda se arrepia com as letras que escrevemos. Ver as minas cantando, usando camiseta no show, gritando conosco é indescritível.

Conte-nos um pouco sobre a gravação e produção de “Eticamente Questionável”.

Yasmin: Já dei uma palhinha ali em cima né, rs. Ainda éramos 4 quando gravamos com o Léo, em janeiro de 2018. Fomos para Santos e ficamos entre a casa dele e o estúdio Warzone. As gravações ocorreram praticamente 24 horas, a gente acordava de madrugada e já começava a gravar, porque só tínhamos um fim de semana. Com a saída da Mars, tivemos que reescrever todas as letras e regravar os vocais e por isso demorou um pouco mais do que esperávamos.

O viés ideológico da Eskröta nunca foi mascarado ou escondido. Por diversas vezes vocês se posicionaram contra determinados políticos e suas linhas de pensamento. Inevitavelmente, esses posicionamentos acabam trazendo atenções não desejadas. O que vocês podem nos contar sobre os haters da banda? Chegaram a ter alguma experiência mais desagradável?

Yasmin: Olha, as eleições de 2018 foram o pior período pra gente. Nós tocamos no dia em que o fascista foi eleito e isso nos deixou muito tristes, principalmente pelos ataques na nossa página, comentários gordofóbicos e machistas. Hoje ainda recebemos esse tipo de “crítica” no inbox, mas ignoramos e seguimos firmes no nosso propósito!

Muito obrigado pela atenção e tempo cedidos. Fiquem à vontade para falarem sobre algo que não foi mencionado. O espaço é de vocês.

Yasmin: Quero agradecer ao espaço que vocês sempre nos deram, é muito bom poder responder cada uma dessas perguntas com orgulho. Obrigada à todos que nos acompanham e podem esperar que 2019 ainda sai um full!

Confira o EP e o videoclipe da banda nos links abaixo:

EP Eticamente Questionável
Videoclipe Eticamente Questionável

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