Insane Driver - Silicon Fortress |
Ao falar sobre o segundo trabalho de uma banda, pode soar clichê ou até mesmo parecer uma jogada segura, dizer que a banda amadureceu ou evoluiu. Nem sempre isso é verdade, muitas vezes os músicos simplesmente optaram por uma mudança no estilo, o que não necessariamente significa uma melhora ou piora, até porque isso é um tanto quanto subjetivo. Mas é fato que quanto mais você ouve e compõe músicas, seu som vai tomando uma forma, uma identidade e isso pode realmente significar um amadurecimento, mesmo que nem sempre agrade a fãs antigos.
Fundada em 2013 na capital paulista, o Insane Driver chega ao seu segundo álbum, intitulado Silicon Fortress. Lançado de forma independente no formato físico e nas plataformas de streaming, o trabalho mais recente dos paulistanos conta com onze faixas autorais e apresenta uma banda preocupada com o profissionalismo, mas sem deixar a emoção de lado.
Se não deve-se julgar um livro pela capa, o mesmo deve ser válido para CDs, mas particularmente, tive dificuldades em não fazê-lo. Isso porque antes mesmo de ouvir as composições de Silicon Fortress, a capa já havia atraído minha atenção. A arte, desenvolvida por Romulo Dias (RDD Artwork) traz um ambiente moderno, porém monótono e destruído. Em meio ao caos futurístico, uma garota assiste um mundo perfeito e colorido com o auxílio de óculos de realidade virtual, alheia à realidade em que está inserida. Tal qual muitos de nós fazemos, sequestrados e hipnotizados pelas redes sociais e cegos para a vida real.
O álbum abre com a instrumental, melódica e envolvente "Back to 1994", com um ar de melancolia esperançosa, preparando terreno para "Faceless Demons". Uma música com uma alma Heavy Tradicional, com belos arranjos das guitarras, um ótimo e pesado timbre do baixo, trabalhando com uma bateria coesa, com quebradas de tempo bem legais e uma presença crucial das vozes. Tanto do vocalista, que remete à bandas modernas de Heavy Metal (tem um quê de Metal BR na voz de Eder Franco), quanto do backing vocal. O ar esperançoso, aliás, está expresso na letra de "Faceless Demons", que discursa sobre as batalhas internas que enfrentamos e a importância de saber quem está ao seu lado nessas lutas. "Keep Away" vem na sequência com um refrão bem forte embalado em um metal mais moderno e com uma temática que segue a linha da anterior. É uma das faixas em que a produção se destaca pela bela captação dos instrumentos e, especialmente das vozes.
A quarta obra do álbum é a faixa-título, trazendo momentos diversificados, com partes melodiosas intercalando com passagens pesadas, solos bem construídos acompanhados de riffs com muita pegada e um refrão com uma atmosfera envolvente.
No segundo álbum da banda, a Insane Driver apresenta uma composição que leva seu nome. E a escolha pareceu bem acertada. Trata-se de uma das faixas mais cativantes e divertidas do full-length, como diz o pré-refrão "Come along it'll be fun". Um som que pende mais pro Thrash e remete ao metal noventista norte-americano, sendo uma das músicas mais pesadas até aqui. Certamente quem gosta de ouvir o Black Album do Metallica vai bangear ouvindo essa música.
"Imagined Realities" tem uma levada estimulante, com pedais duplos casando com as bases pesadas. É uma das faixas em que o entrosamento entre os músicos fica notável. A letra segue aquela linha de verdades secretas escondidas por governos que usam seus cidadãos como marionetes. O refrão é empolgante e, apesar dessa ser uma das faixas mais enérgicas do full, as partes mais melódicas também dão as caras por aqui. Além de trechos de discursos de Hitler (salvo engano deste que vos escreve), Kennedy e Getúlio Vargas.
"Invisible Chains" tem um arco interessante, pois sua primeira metade tem uma veia melancólica, mesclada com um certo peso, especialmente no refrão. Na segunda metade, no entanto, o peso ascende com vontade, pisando num Thrash Metal com pedais duplos, grooves, vocais berrados e riffs abafados e densos.
Completam o álbum as faixas "Age of Lies", "Desperate Prayer", "Ghosts" e "Distant Hearts".
Em seu segundo álbum, a Insane Driver chegou a um nível muito interessante de composição, profissionalismo e entrosamento, além da notável dedicação dos músicos. "Silicon Fortress" é, no geral, um álbum mais introspectivo do que o debut-album lançado em 2016 e, com o risco de soar clichê, mais maduro. A essência do primeiro álbum está presente, mas a banda experimentou mais dessa vez, mesclando elementos interessantes e entregando um resultado acima da média em um estilo difícil de se destacar.
O álbum, que foi gravado, mixado e masterizado no Acustica Studios e teve a produção de Danilo Pozzani, está disponível no formato físico diretamente com a banda e no formato digital em todas as plataformas de streaming.
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