sábado, novembro 17, 2018

::Resenha:: Eskröta - Eticamente Questionável


Três garotas são as responsáveis pela energia e mensagem transmitida pelo som da Eskröta. A banda foi fundada em 2017 e sem tempo a perder, foi galgando o respeito de fãs e se destacando na cena do metal paulista e até nacional. No fim deste mês, o trio se apresenta no badalado festival Maniac's Metal Meeting em Rio Negrinho-SC ao lado de grandes nomes do metal brasileiro. Cerca de um ano após a fundação da banda (que foi um quarteto no início), o EP debutante "Eticamente Questionável" chega no cenário do underground nacional. Lançado em maio de 2018, o novo trabalho teve a colaboração de diversos profissionais e estúdios, a saber: Léo Mesquita e Jurema do Estúdio Warzone, responsáveis pela gravação instrumental; Andrey do Estúdio Válvula 9 (vocais). Mixagem por Léo Mesquita do Estúdio Warzone e masterização por Prika Amaral (Nervosa) do Somma Prods. A arte que compõe o EP ficou sob a responsabilidade de Victória Santos. Além disso, o trio contou com algumas participações em backing vocals, como Sarah Neves, Leã Davidson, Daniel Pacheco, além das próprias integrantes da banda. 

"Eticamente Questionável" possui sete obras autorais da Eskröta e tem duração de 17 minutos. A produção alcançou um nível muito bom e a qualidade da banda certamente se destaca. O som é, essencialmente um Thrash Metal crossover. Destilado em toda sua honestidade, energia, gana e naturalidade. 

"Desumana Ação" abre o EP com um início cadenciado que logo dá espaço para a velocidade dos riffs e percussão. O vocal rasgado de Yasmin Amaral, cantado em português transborda agressividade para a interpretação das letras. O refrão é um dos pontos de destaques da música, com bases pesadas encaixadas em levadas envolventes. A baterista Miriam Momesso demonstra intimidade e bom repertório com o instrumento, com inteligentes levadas na condução. 

"Bife do Inferno" tem uma pegada compassada muito boa, controlada nos pedais duplos da bateria, seguida de bases que remetem ao punk. Esta é uma das composições mais crossover do EP. Velocidade é uma das marcas principais da faixa, aliada ao refrão cantado a plenos pulmões por Yasmin e Tamy Leopoldo, cujo backing vocal faz um contraste muito funcional. Mais uma vez fazendo uso da condução, a bateria junto às bases cadenciadas cria um dos momentos mais chamativos da obra. 

Em "Episiotomia", a influência punk também dá as caras com riffs rápidos e diretos. A letra aborda o procedimento médico realizado durante partos para facilitar seu trabalho. A decisão parte do médico e a mulher geralmente não tem escolha. O refrão da música é bem trabalhado e cantado com força e a variação rítmica é uma dos melhores do trabalho, com destaque para a queda de tempo e o solo de guitarra. 

"Crime Hediondo" denuncia e ataca o estupro e estupradores e a cegueira da sociedade, que comumente acaba por culpar a mulher ou relativizar algumas situações que ocorrem mesmo dentro de casa por pessoas próximas. O refrão da música é forte e marcante, com riffs bem construídos. Merece destaque também o ótimo casamento entre solo e base.

A quinta faixa, intitulada de "Executável", é uma das mais ricas do CD. Com uma introdução arrastada, o baixo insere peso e corpo à obra. O trecho inicial remete à época Chaos A.D. e Roots do Sepultura. A guitarra adiciona sujeira e velocidade em um riff que, junto à  percussão, certamente devem abrir algumas rodas em seus shows. A variação das vozes funciona muito bem na atmosfera da música. E assim como nas outras composições, o refrão é um dos pontos de destaques. Esse, inclusive, é bastante forte. "Luta e morte por um ideal" é gritado repetidamente pelas garotas. Essa letra aborda vida e morte da ex-vereadora Marielle Franco do Rio de Janeiro, assassinada em março de 2018.

A faixa-título é uma pedrada que demonstra a veia crossover da banda, com influências de thrash, punk e até death metal. Velocidade, peso, sujeira, técnica e alma são as principais características que compõem esta criação. A letra enfia o dedo na ferida das inúmeras hipocrisias da sociedade. Excelente título escolhido, tanto para a música quanto para o EP.

Fechando o CD, a  música mais curta dentre todas. Intitulada de "Mulheres", em pouco mais de trinta segundos e três frases, as minas deixam sua mensagem. Um solo rápido de baixo introduz a obra e a paulada é curta e eficiente.

O EP "Eticamente Questionável" é um senhor pontapé inicial para uma banda com pouco tempo de estrada. Yasmin, Tamy e Miriam acertaram a mão no trabalho. Criatividade, energia, revolta, paixão e honestidade atropelando tudo em uma harmonia headbanger. Ou melhor, headbangirl! Parabéns às garotas e aos envolvidos na criação desta criatura.

O EP está disponível nos formatos físico e digital. Para comprar o digipack, entre em contato com a banda através de sua página no Facebook: https://www.facebook.com/eskrota/

Audição online:

Bandcamp
Deezer
Spotify
Youtube

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