domingo, setembro 16, 2018

::Resenha:: Two Old Men


Quando você se acostuma a escrever sobre um determinado assunto, é comum você cair na besteira de adquirir vícios e sua escrita se tornar meio automática, fazendo com que você chegue a contestar seu vocabulário por parecer que está sempre escrevendo a mesma coisa. No meu caso, grande culpa disso é o fato de eu nunca ter estudado jornalismo e decidido falar sobre metal simplesmente por gostar da prática. Como grande parte das resenhas redigidas neste blog são de metal pesado (thrash, death e black), a sensação de já ter usado certa expressão algumas vezes fica ressurgindo de vez em quando. No entanto, de vez em quando surgem bandas que são verdadeiros desafios e com uma bela botinada, te arrancam da zona de conforto. E sem dúvidas (para mim), esse foi o caso do Two Old Men. Executando um som com o qual não tenho grande intimidade, escrita automática e vocabulário padrão não tiveram vez. Portanto, posso afirmar que redigir essa resenha foi tanto desafiador, quanto divertido. Torço para não frustrar leitores do blog, músicos e fãs da banda. 

Experiência é o que não falta para a dupla Cláudio e Paulo. O primeiro integrou a banda God (Death Metal de Vinhedo-SP) no início dos anos 90 e o segundo integra as bandas Abömydögs e No Sense, além de já ter deixado sua marca no Empire of Souls, In Hell, Mystic Death e Wrinkled Witch. Claudio Cardoso assumiu guitarra, baixo e vocais do álbum, enquanto Paulo Ferramenta foi o responsável por bateria e backing vocals. O CD, que possui 13 faixas, foi produzido pelo duo e por Ivan Pellicciotti e gravado, mixado e masterizado por Ivan Pellicciotti em O Beco Estúdio. A arte que ilustra o encarte é de Natan Viana.

A dupla define seu com como "evil rock", mas há um pouco de muita coisa nesse trabalho. Rock n' roll, metal clássico, metal extremo. A fonte de onde a banda bebe é grande. "Two Old Men", é a faixa  de abertura. Ventos, uma gaita soando e uma narração sobre tudo o que acontece quando dois velhos amigos se reúnem para beber e em algumas vezes, demônios estão ouvindo também.

O som de "Of Time" inicia-se com uma guitarra pesada e densa, vocal gutural e percussão bem compassada. O baixo, com uma ótima sonoridade, palpável e colocando muito peso na composição.

Em "My Friend The Devil", a gaita ressurge contrapondo-se a um dos riffs mais marcantes deste trabalho. Um som arrastado em que acordes e linhas vocais trilham juntos criando uma sonoridade muito boa. O vocal, um meio termo entre grave e rasgado, compõe a alma da obra, que exibe uma notória variação rítmica com a participação de Arthur Von Barbarian (baterista do Vulcano) no vocal. A voz aguda e melódica de Arthur somada à quebra do tempo dão ares de Led Zeppelin ao som. Justiça seja feita, o vocal agudo rouba a cena por aqui. E o encerramento da música com o dueto entre vocal gutural e agudo ficou excelente. Certamente uma das melhores criações do álbum.

"In The Deep" e "Black Clouds" são músicas no estilo heavy n' roll, com uma veia meio Motörhead. Destaque para pedais duplos e o belo e forte peso do baixo. A segunda segue um ritmo mais agitado e envolvente, enquanto a primeira é cadenciada e com uma boa levada.


"Babalon" é a música mais curta do álbum. Com menos de dois minutos de duração, dá um bom destaque para a cozinha que pisa no acelerador e mostra muito do groove presente na veia do duo. E embalados pela crescida da velocidade, "Alike" pega carona em bases e percussões com pedais duplos bem rápidos, até desacelerar novamente, apresentando uma transformação musical onde a banda cai com os dois pés no rock n' blues. A sonoridade da obra te transporta para um encontro de motociclistas. Mas não se deixe enganar pelo som, pois a letra não é nada festiva. "Alike" aborda diversos sofrimentos da humanidade e questiona a onipotência de um deus que permite que tudo isso aconteça.

"Don't Kiss Me Baby" é um som com presença intensa da bateria, onde Paulo mostra parte de seu repertório. A faixa tem uma pegada marcante e a participação de Marly Cardoso (vocalista do No Sense) emprestando sua voz agressiva e ríspida ao som do Two Old Men. A união trouxe um excelente resultado para a composição. Aliás, é justo dizer que ambas as participações foram muito bem escolhidas pela banda, pois casaram muito bem com o som, cada um à seu estilo.

"Poison Love" tem um dos melhores e mais marcantes riffs de todo o álbum e o refrão também é um dos que mais se destacam. Interessantes passagens de guitarra e baixo, além de outras passagens bateria/vocal bem singulares.

Encerrando o álbum, os "Dois Velhos" apresentam a faixa mais longa. "Stone of the Witch". Trata-se de mais uma faixa com boa variação rítmica, apresentando diversos elementos interessantes. Timbre de guitarra rock n' roll unido a um baixo pesado e levada cadenciada na bateria que também faz uso dos pedais duplos.

O Two Old Men surgiu em 2012 em Santos-SP e esse é seu segundo trabalho, lançaram o EP "Don't Kiss Me Baby" em 2014. A banda possui uma ótima proposta e cumpre muito bem esta ideia. Paulo e Claudio bebem de diversas fontes e isso fica transparente ao longo dos quarenta e três minutos de duração deste CD. Em áreas praticamente saturadas como o metal e o rock n' roll, onde muitas bandas soam repetitivas, o Two Old Men prova que criatividade não é problema. Seu primeiro full-length certamente agradará fãs do rock n' roll até o metal extremo.

O álbum pode ser ouvido gratuitamente nos links abaixo:

Bandcamp
Deezer
Spotify

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