sexta-feira, setembro 21, 2018

::Resenha:: Desalmado - Save Us From Ourselves


Em 06 de fevereiro de 2018, o Desalmado lançava "Save Us From Ourselves". O full-length, que é seu quinto trabalho foi lançado pela Black Hole Productions e Helena Discos. Produzido por Hugo Silva e Desalmado, mixado por Hugo Silva e gravado no Family Mob Studio em São Paulo-SP no ano de 2017. Pode ser errado julgar um livro pela capa, mas "Save Us From Ourselves" já passa uma ótima impressão na parte visual. O Desalmado acertou a mão na escolha do artista Jeca Paul que desenvolveu uma belíssima arte para a capa do álbum. O disco é o primeiro com letras em inglês na carreira da banda, que possui quatro outros registros cantados em português, contando um split com o Homicide de São José-SC. Curiosidade à parte, ainda antes de ser batizada como Desalmado, o nome da banda era El Fuego e o idioma das letras era o espanhol.

Se a banda já soava insana em português, o mesmo aconteceu com o inglês, que encaixou muito bem em sua proposta e foi incorporado em um grande momento, possivelmente o auge dos paulistanos e os crava como um dos principais nomes do grindcore nacional. O novo álbum é muito bem gravado e produzido e mostra uma nítida evolução sonora e criativa. A porrada está mais presente do que nunca, mas tanto produção quanto o setor criativo distanciaram o grupo do chamado anti-música. Mas, calma! Obviamente as raízes ainda estão lá. 

Sem nenhum tipo de introdução e direto ao ponto, "Privilege Walls" abre o álbum em uma hostilidade sonora. Muito peso e agressividade em blast beats e palhetadas unindo death metal e grindcore. Caio alcança um timbre vocal feroz que instigaria o fã à juntar-se a uma briga ou a uma revolta popular. Letra, instrumental e vozes estão em perfeita sintonia nesta composição. 

Seguindo com "It's Not Your Business", faixa que ganhou um lyric video em outubro do ano passado, um riff grindcore com um pé no punk soa sujo, convocando os fãs para o mosh pit. A bateria trabalha bastante com rápidas viradas e condução coesa do tempo. A guitarra apresenta uma base pesada e sombria denunciando a influência do Death Metal na obra, além de uma levada cadenciada muito boa, que é um contraponto de destaque do som.

"Save Us From Ourselves", a faixa-título, é um dos momentos de grandes destaques. Com uma introdução que apresenta uma atmosfera mais pesada, criada por uma percussão, executada por Thiago Sonho, e riffs arrastados e densos. Uma pegada compassada do tipo que envolve todo o público presente logo se transforma em um som mais acelerado com ótimos arranjos da guitarra. Refrão imponente, cantado com ódio. A música mais longa é também uma das melhores construções do trabalho.


A faixa "Blessed By Money" virou videoclipe, aliás, um ótimo videoclipe. Muito bem produzido e dirigido, abordando o desemprego e a degradação humana em uma grande metrópole. O clipe se passa nas ruas de São Paulo e foi lançado em maio deste ano. A música tem um início muito interessante e uma das melhores levadas do CD, no melhor estilo Napalm Death, grande influência dos músicos. Com uma passada acelerada, o peso do baixo tem grande importância preenchendo o som em diversos momentos, especialmente nas quebras de tempo.

Outra música que ganhou um videoclipe foi "Bridges to a New Dawn". Essa é mais uma que pega em cheio na veia do ouvinte. É incrível a capacidade dessa banda de compor músicas envolventes, seja na pancadaria, na velocidade ou na pegada arrastada. "Corrosion" e "Binary Collapse" são duas faixas curtas, a mais longa tem pouco mais de dois minutos, mas certamente não falta tempo para não deixar pedra sobre pedra. Blast beats e espancamento da bateria, riffs soltos característicos do grindcore formando uma trilha sonora perfeita para as letras ácidas, críticas e muito bem escritas sobre governos autoritários e o modo de vida moderno e decadente da sociedade.

"Exist and Resist" é a "saideira" do álbum. E é, provavelmente, a música mais Death Metal do CD. O riff inicial me remeteu à uma das fases do Malevolent Creation. Mais um refrão forte com uma base muito boa e uma cozinha pesada marcando muito bem o tempo. O discurso de Leo Mesquita, que encaixou muio bem na faixa, fecha o álbum fazendo críticas ao capitalismo. O discurso, junto ao restante da letra é um chamado para um levante popular contra um sistema opressor que favorece poderosos.

"Save Us From Ourselves" é O grande trabalho do Desalmado. Grindcore genuíno com boas pitadas de metal extremo. Muita técnica, vontade e ódio. Letras inteligentes e bem desenvolvidas e ativismo político/social. Sem dúvidas um dos grandes álbuns nacionais de 2018. Parabéns aos envolvidos.

O CD está disponível para venda e audição online nos links abaixo:

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