terça-feira, setembro 11, 2018

::Resenha:: Scalped - Synchronicity of Autophagic Hedonism

Synchronicity of Autophagic Hedonism - 2018. Arte: Pablo Miconi.

Scalped é uma banda que nasceu em 2012 no absurdo celeiro de bandas que é a capital mineira, Belo Horizonte. Em 2014 lançaram o EP Psychopath de maneira independente com apoio da Black Legion Productions. Em apenas cinco faixas, o Scalped mostrou que não entrou nessa para brincadeira. O EP já chama a atenção pela excelente capa e transborda violência para a parte musical. Mais três anos se passaram até o lançamento de seu primeiro álbum, "Synchronicity of Autophagic Hedonism", que foi gravado em 2017 nos estúdios Roffer e Óxido, ambos em Belo Horizonte. Mixado e masterizado no Estúdio Roffer por Marcelo Roffer, produzido por Thiago Prado, Marcelo Roffer e pelo próprio Scalped. A banda oferece ao seu público neste álbum duas opções de capa. A "oficial" foi feita por Pablo Miconi e a capa "bônus" ficou sob responsabilidade de Emerson Maia. 

Antes mesmo de desembalar o CD, você já nota que tem algo muito promissor em mãos, pois pela quantidade de selos envolvidos no lançamento e divulgação do álbum, não tem como a coisa ser frustrante. E ao dar o play, você deve se preparar, pois a audição do CD é quase uma agressão física. Composto de onze faixas de um death metal brutal executado na velocidade da luz, toda a banda esbanja técnica e intimidade com sua função. Desnecessário mencionar os blast beats e palhetadas insanos de tão velozes e o vocal gutural aos extremos que se pode alcançar em um timbre grave. Seguindo a linha de bandas como Dying Fetus, Benighted e Aborted, o "Sychronicity..." é uma exemplificação perfeita da expressão metal extremo. 

Obviamente a banda não se resume a uma música rápida e pesada e sabe explorar muito bem levadas cadenciadas, criando excelentes contrapontos e passagens que acertam na veia, com arranjos influenciados pelo death metal norte americano.

Synchronicity of Autophagic Hedonism - 2018. Arte: Emerson Maia.

Thiago Macedo e Claydson Silva se revezam em solos penetrantes com influências da escola clássica do metal, desferindo riffs rápidos e venenosos em faixas como "Fulminant Idiosincracy" e "Natural Disgrace". Os trabalhos dos vocais gutural e agudo se interpondo dão mais alma à desgraça sonora. A banda, que se diz influenciada pelos conterrâneos de Sepultura e Sarcófago, também deixa transparente a influência dos primeiros discos do Krisiun em suas composições. Em "Natural Disgrace", há momentos com mais melodia, sem deixar a brutalidade sair de vista, obviamente.

Algumas faixas como "Overpopulation", "Final Round" e "Fuck Your Opinion" flertam fortemente com o Grindcore, sem nunca deixar o Death Metal de lado. Essas são, possivelmente, as faixas mais rápidas e pesadas do álbum. Um apanhado da podreira de cada estilo que resultou em três composições brutalmente agradáveis.

"Destruction and Chaos" tem um título que define a parte instrumental perfeitamente. Excelentes riffs totalmente intrincados no Death Metal, lembrando grandes nomes do metal extremo mundial. Com passagens interessantes e criativas da cozinha, ganhando espaço com pausas das guitarras, a música faz uma ponte muito boa para a próxima faixa "Psychopath", quase fazendo parecer que ainda se trata da mesma música. A linha do tempo ficou muito boa aqui. Mas basta a faixa seis evoluir um pouco para ficar mais do que claro que se trata de uma nova composição. A linha vocal é muito bem desenvolvida e desafia o fôlego do vocalista Fernando Campos, que expressa no refrão desta faixa uma de suas participações mais interessantes do trabalho. Cantando na melodia do riff, o vocal gutural dá um resultado muito legal.

Scalped. Da esquerda p/ direita: Bruno Mota, Marcelo Augusto, Fernando Campos e Thiago Macedo.

Em "Scalped", a música inicia-se com uma pegada diferenciada na bateria, que conduz o ritmo em uma pegada thrash/death metal. Além das tradicionais partes ultra velozes, há algumas levadas arrastadas que são contagiantes e riffs e solos marcantes. Uma das músicas com mais variações rítmicas e com uma ótima construção.

Fechando o álbum, a banda apresenta uma faixa de quase doze minutos. "Blood, Pain and Feeling". Com momentos de duetos de guitarras criando uma espécie de balada do metal acompanhada com ruídos de chuva e trovões. O som da natureza continua soando, agora com a ausência das guitarras e após pouco mais de quatro minutos de sons de água e raios atingindo o solo, Beethoven ganha espaço. Sim, o compositor alemão que viveu entre os séculos XVIII e XIX. O pianista aparece aqui nas composições "Sonata ao Luar" e "Abertura Egmont Op. 84". No mínimo inesperado em um disco de brutal death metal. No entanto, particularmente, achei de ótimo gosto. E se o álbum é uma destruição sonora do início até perto do fim, o encerramento é apoteótico.

Composições, parte visual e produção do álbum são realmente muito boas, coisas de banda que se importa com o fã. Um CD que faz valer cada centavo gasto. Se você está puto com a humanidade e todos os inúmeros problemas que ela trouxe, o Scalped também está e descarrega o ódio da melhor maneira possível, com letras ácidas e violência musical. Uma trilha sonora para um mundo apocalíptico.

O álbum está à venda nas lojas do ramo e a versão digital pode ser ouvida gratuitamente em diversas plataformas de streaming. Listamos alguns links abaixo:

Versão física do CD:

Cogumelo Records
Extreme Sound Records
Heavy Metal Rock

Versão digital do CD:

Deezer
iTunes
Play Store
Spotify

Um comentário:

Fedora Abdalla disse...

Do caralho demais \w/