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terça-feira, maio 28, 2019

::Resenha:: Tormenta - Batismo Da Dor

Tormenta - Batismo da Dor (2019)

Pode até ter levado um tempo enorme, pois a banda data de 1998, mas o primeiro álbum do Tormenta (Thrash Metal de Ribeirão Preto-SP) finalmente chegou. No entanto, apesar de terem se unido há mais de vinte anos, os paulistas tiveram duas pausas em sua história. De 2002 a 2005 e de 2008 a 2010, portanto, aproximadamente cinco anos de inatividade nos vinte e um de existência. "Batismo da Dor" é o debut album, mas o segundo registro da banda, que conta com um EP lançado de maneira independente em 2006. 

Treze anos depois e em grande estilo surge o principal trabalho da Tormenta, com uma atenção especial dedicada à parte visual do full. Digipack bem trabalhado, com citações de Shakespeare, Goethe, Gandhi, José Saramago e outros antecedendo as letras das músicas no encarte, além de uma capa que traz uma escultura do artista italiano Enrico Ferrarini. A obra, intitulada "Urlo", ("urro" ou "grito" em italiano) permite reflexões a respeito de expressões e sentimentos, como um subconsciente berrando por trás de uma máscara socialmente aceita. A escultura somada às citações escolhidas pela banda, agregam positivamente ao trabalho como um todo e o deixam mais complexo e até intelectual.

Gravado, mixado e masterizado por Rômulo Felício (Necrofobia) e Rogener Pavinski (guitarra e vocal da Tormenta) no Under Studio em Ribeirão Preto-SP, o álbum foi produzido pela própria banda e à exemplo de seu primeiro EP, as letras são todas cantadas em português. O trabalho é composto de dez faixas, sendo duas instrumentais e um cover. 

Já de cara, fica evidente uma das principais qualidades aqui: o profissionalismo. A musicalidade e o modo como ela foi captada, o nível das composições e até mesmo a seriedade com que os músicos encaram a empreitada é algo nítido. "Cumulonimbus" é uma introdução instrumental com riffs melódicos e em grande harmonia. A maneira como se complementam é muito bem construída e realmente chama a atenção. Baixo e bateria injetam peso e groove na medida e toda a banda esbanja técnica e conhecimento dos instrumentos.

É interessante notar como a banda dosa bem as influências na hora de compor, pois possui elementos pesados e rápidos, cadenciados e melódicos, modernos e old school e tudo isso pode estar em uma única composição, entregando ao fã um belo resultado sem soar nada forçado. É fato que o gênero adotado pela banda é o Thrash Metal e trata-se de um estilo pra lá de saturado e, no entanto, "Batismo da Dor" não é nem de longe um álbum datado, ultrapassado ou somente mais do mesmo. Os ribeirão-pretanos se empenharam em entregar um full-length com criatividade e alma. E conseguiram. Tudo está lá: a gana do vocal, as palhetadas rápidas e certeiras das guitarras e o peso e a condução da cozinha. Esse é um daqueles álbuns pra você mostrar pra quem diz que metal não soa bem em português, pois essa é a prova cabal de que o nosso idioma casa muito bem com riffs pesados e velozes, mas experiência e competência são de suma importância para um bom resultado. Além disso, a honestidade ao interpretar as letras faz a gana transparecer e soar natural. 


Tormenta (2019)

Todo o álbum mantém um alto nível, sem oscilações ou faixas fora de contexto. É realmente muito bom do início ao fim. Abaixo falo um pouco das que mais se destacaram para mim. 

A faixa-título "
Batismo da Dor" que virou Lyric Video recentemente tem refrão e outros trechos marcantes. A ponto de você se pegar cantando depois de ouví-la míseras duas vezes. O título é excelente e mereceu batizar o álbum. Aqui temos um dos melhores riffs do CD;

Reféns do Medo” tem um início mais melódico e dá a impressão de ser uma música menos pegada. Ledo engano, o peso e o groove aparecem com imponência e também possui um ótimo refrão; 

"
Em Nome de Deus", com críticas à líderes religiosos charlatões e à própria religião tem uma veia Speed Thrash e é uma das mais empolgantes. Daquelas em que você se vê obrigado a meter o volume no talo. Os pedais duplos unidos às palhetadas e a levada mais compassada e pesada são alguns dos grandes pontos;

Dono da Verdade” tem um andamento muito legal e é uma das mais bem produzidas. Possui uma das letras mais interessantes e, sem querer soar repetitivo, mas, que refrão! Com direito até a adaptação do famoso texto “já não havia ninguém para protestar” de Martin Niemoller; 

A Noite Espessa” é uma música introspectiva e profunda que fala sobre tristeza, depressão e solidão e somente pela versatilidade criativa da banda, já mereceria entrar em destaque, mas, além disso, é uma composição forte, com sentimento e honestidade. Letra e instrumental casam com perfeição nessa que é uma das mais complexas e envolventes músicas do álbum, coincidência ou não, é a mais longa, com seis minutos de duração. 

Por último, não poderia encerrar essa resenha sem mencionar o cover escolhido. "
Mal Necessário" de Ney Matogrosso. Uma escolha inteligente, que valoriza a cultura nacional e que foge do óbvio. A música ganhou uma roupagem fenomenal e, no entanto, toda a essência da obra original está lá. É mais um exemplo do profissionalismo da Tormenta, pois souberam criar algo novo em cima de um clássico, respeitando e mantendo a sonoridade de Ney Matogrosso e Tormenta. Certamente o próprio cantor apreciaria a homenagem. 

O álbum está disponível nas versões física (digipack) e digital. Confira abaixo:


Versão física:


Tormenta Site Oficial


Digital: 


Deezer
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Spotify

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