O Ruins of Elysium,
banda oriunda de Belo Horizonte-MG, de Symphonic Epic Metal está se preparando
para lançar o seu próximo trabalho, que receberá o título de “Seeds of Chaos And
Serenity”. Convidamos o vocalista Drake Chrisdensen para bater um papo sobre a
banda, sua formação musical e sua luta e posição sobre o movimento LGBT.
Confira abaixo como foi a entrevista.
MORTICÍNIO PRODUÇÕES–Provavelmente o grande diferencial da Ruins Of
Elysium para as demais bandas é a presença de um tenor nos vocais. Gostaria que
você nos contasse um pouco sobre a sua formação musical e seus gostos também.
DRAKE CHRISDENSEN – Olá Flávio e leitores da Morticínio,
primeiramente gostaria de agradecer a oportunidade de participar dessa
entrevista. Bom, eu comecei a cantar quando entrei no coral da minha escola,
isso 14 anos atrás e nunca parei. Estudei canto popular e me encontrei no
lírico, onde tive a honra de aprender com grandes nomes como Fernanda Araújo,
Eliseth Gomes, Janet Williams e Melissa Ferlaak, que começou sendo uma
inspiração pra mim, depois minha professora e hoje é uma das minhas melhores
amigas. Morei em Berlin por um ano para
dar continuidade aos meus estudos e também já me aventurei pelo belting e pelo
teatro musical. Basicamente, erudito, metal e algumas coisas do pop como Elton
John, Sarah Brightman e Lady Gaga são meus estilos favoritos.
MORTICÍNIO PRODUÇÕES – Quais são as bandas e músicos que
influenciam você e o resto da banda durante as composições?
DRAKE CHRISDENSEN – No erudito, gosto muito do trabalho do Jonas
Kaufmann e do Thiago Arancam, eles são definitivamente inspirações para minha
performance vocal. A Ruins of Elysium tira inspiração de vários lados
diferentes e acho que por isso que conseguimos fazer um som diferente. Eu sou
muito fã de músicas extremamente épicas, grandiosas, temas de videogames e
filmes e esses elementos nós trazemos pra construção da nossa música. Talvez a
banda que mais me inspire, pessoalmente, seja o Versailles, mas acho que Xandria,
Fleshgod Apocalypse, Dark Moor e Septic Flesh, sendo algumas das minhas bandas
favoritas, exerçam também uma influência na hora de compor.
MORTICÍNIO PRODUÇÕES–Como surgiu a ideia de cantar dessa forma em
uma banda de metal?
DRAKE CHRISDENSEN – Eu sempre quis ouvir uma banda de metal que
contasse apenas com um tenor operístico nos vocais, mas não existia, então
criei a minha. Temos cantoras incríveis usando a técnica lírica no metal, mas
por que tão poucos homens? Eu não sei dizer...acho que vem com aquele
estereotipo de que o frontman tem que ser agressivo na hora de cantar e vocal
erudito é tido como “delicado”.
MORTICÍNIO PRODUÇÕES–Ainda sobre as preferências musicais, vocês já
fizeram uma versão de uma música da Lady Gaga e agora estão preparando uma
versão de uma música da Amy Winehouse para o próximo álbum. Como o público tem
reagido à esse “ecletismo”?
DRAKE CHRISDENSEN – Nossos fãs e amigos curtem muito e acho que é
legal mostrar lados diferentes da música onde o metal pode se encaixar. Lady
Gaga é minha diva (risos) e não poderia passar sem fazer uma versão de uma
música dela, que, como fã assumida de Heavy Metal, escreve canções que caem
como uma luva na pegada metal. Fizemos também uma versão da Largo Al Factotum
(a ária do “Figaro”), da Ópera “O Barbeiro de Sevilla” e também deu super
certo.
O vocalista Drake Chrisdensen durante as gravações do novo álbum
MORTICÍNIO PRODUÇÕES–Você é um ativista LGBT declarado. Como você
enxerga a relação do público do metal com essa causa e com vocês? Você já
passou por alguma situação desagradável durante apresentações da banda ou em
outros eventos de metal?
DRAKE CHRISDENSEN – Bom, eu acho que a homofobia no metal e rock
vem mais atrelada ao machismo do que qualquer coisa. Crescemos com ícones como
Freddie Mercury e Rob Halford, então na minha vivência eu percebi que o meio
metal não costuma ser hostil ao gay...DESDE que ele não dê pinta, DESDE que ele
seja discreto e eu acho isso muito problemático porque é uma consequência da
repulsa ao feminino que impregna o cenário. Quando uma mulher está na banda,
seu talento é automaticamente questionado. “Nossa, mas sua guitarrista é
mulher?”, “Sua baterista é mulher e toca bem, hein?”, sem falar nos costumeiros
“música de mulherzinha”, “metal de mulherzinha”, etc, como se isso fosse algo
depreciativo. Você pode estar no Arch Enemy, tocando Death Metal, mas por ser
uma banda com uma mulher no vocal, já é colocada no mesmo rótulo de “female fronted
metal” que muitos torcem o nariz. E quando estou no palco, estou sempre de
salto alto e maquiagem pesada, e foram nesses momentos em que recebi
comentários maldosos ou olhadas mal-encaradas, no momento em que usei elementos
ditos “femininos”, mas já fui com meu ex namorado pra shows e não recebemos
qualquer tipo de hostilização, mesmo nos portando como um casal qualquer:
andando de mãos dadas, trocando carinhos de vez em quando. Nem uma olhada
sequer. Pra mim, respeito “condicionado” não é respeito.
MORTICÍNIO PRODUÇÕES – Algumas causas vêm ganhando força ao longo
do tempo, especialmente nas redes sociais. Provavelmente nunca se combateu
tanto o machismo e a homofobia como tem acontecido atualmente. Como você
analisa o quadro do Brasil nesses assuntos? Você acredita que é possível olhar
para a situação de uma forma otimista?
MORTICÍNIO PRODUÇÕES–O Ruins of Elysium conta com integrantes de
diferentes nacionalidades. Essa diversidade de culturas contribui de alguma
forma durante as composições ou isso gera algum tipo de atrito ou empecilho?
DRAKE CHRISDENSEN – O maior empecilho é a impossibilidade, no
momento, de fazermos shows com a banda completa, mas é apenas isso. De resto,
funciona super bem. Nosso guitarrista é também nosso produtor e pensamos muito
parecido. A mesma coisa com a programadora das nossas orquestras, é tudo bem
simbiótico entre nós e flui muito tranquilamente. Acho que é natural que cada
um de nós traga elementos culturais na nossa bagagem criativa, tem funcionado
até agora.
MORTICÍNIO PRODUÇÕES –A banda ainda é brasileira ou vocês romperam
as barreiras geográficas e se consideram “do mundo” agora?
DRAKE CHRISDENSEN – A banda é brasileira da mesma forma que é
italiana e grega. Já não podemos nos ater a somente uma nacionalidade por causa
dos membros de nacionalidades diferentes, então, de certa forma, acho mais
justo considerar “do mundo” pra poder representar todos nós.
MORTICÍNIO PRODUÇÕES – Como está o crowdfunding para o próximo
álbum?
DRAKE CHRISDENSEN – O crowdfunding foi uma forma de dar aos nossos
fãs e amigos coisas que nos pediam a muito tempo: versões físicas, camisas,
brindes, etc, mas a maior parte dessas pessoas não contribuiu. O álbum vai
acontecer independente do crowdfunding, mas provavelmente não faremos mais
edições físicas.
MORTICÍNIO PRODUÇÕES – O EP “Daphne” foi lançado recentemente. Em
maio deste ano, certo? E sem perder tempo, vocês já estão gravando o próximo
trabalho. Como foi a recepção do público em relação ao EP?
DRAKE CHRISDENSEN – Foi excelente. Muito melhor do que eu esperava,
sendo sincero, porque Daphne foi o primeiro lançamento realmente grande nosso e
que possibilitou às pessoas ouvirem e pensarem “então ISSO é a Ruins of Elysium:
é épico, é ativista, é sem fronteiras” e pode ser difícil de agradar nessa
primeira impressão. Acho que o que chamou atenção é que não tivemos medo de dar
tudo de nós nesse lançamento, não teve um “ah, acho que ainda não estamos
preparados pra isso”, NÃO, vai ter épico de 10 minutos, vai ter música puxando
pro death metal sobre homofobia, vai ter ária de ópera versão metal e mais,
muito mais! Então acho que a ousadia de Daphne chamou atenção.
MORTICÍNIO PRODUÇÕES –O álbum de estreia da banda tem tudo para ser
marcante. Tem até faixa com quarenta minutos de duração. Será um álbum bem
longo, pelo visto. Você pode nos contar um pouco mais sobre este trabalho e
quais são as expectativas?
DRAKE CHRISDENSEN – Deixando a modéstia de lado e falando do meu
gosto pessoal, o Seeds Of Chaos And Serenity é o álbum de Symphonic Metal que
mais gostei de ouvir na vida. Acho que tem que ser assim, né? Temos que estar
satisfeitos com o trabalho que fazemos e o “SoCaS” é uma monstruosidade do
estilo que eu amo. A abertura, Kama Sutra, é bem grudenta e acho que seria um
excelente single, até porque adoraria gravar um clipe bem homoerótico pra ela
(risos). Shadow of The Colossus capta exatamente a essência do jogo homônimo: a
sensação de estar sozinho no mundo, e, do nada, encontrar um gigante que você
tem que derrotar, isso acabou dando vida à segunda música mais longa do álbum,
com aproximadamente 9 minutos. Serpentarius, nosso primeiro single, é bem
alegre e bem divertida, quem ouviu adorou! A faixa título, Seeds Of Chaos And Serenity,
é minha primeira sinfonia e espero poder fazer outras no futuro, já que sempre
amei as longas sinfonias de Mozart e Dvorak.
MORTICÍNIO PRODUÇÕES – Como está a agenda ultimamente?
DRAKE CHRISDENSEN – Está focada na produção, gravação e divulgação.
Os dias tem sido corridos na gravação do álbum e na divulgação da banda.
MORTICÍNIO PRODUÇÕES –Gostaríamos de agradecer à você pelo tempo e
atenção cedidos e deixamos o espaço aberto.
Sinta-se à vontade para falarem com o público.
DRAKE CHRISDENSEN – Eu que agradeço pela oportunidade, foi um
prazer bater esse papo com vocês! Agradeço demais aos nossos fãs e amigos,
nossos Sentinels Of The Starry Skies, pela força nessa caminhada, esperamos que
vocês gostem do Seeds of Chaos And Serenity da mesma forma que estamos
gostando.
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