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quinta-feira, outubro 12, 2006

ENTREVISTA COM GAMMOTH




Entrevista com a banda Gammoth

Morticínio Produções: O Gammoth teve início às atividades no ano de 2001. Desde então, a banda já lançou três trabalhos: um Cd demo, um Ep e o Debut “Blunt Force Trauma”. Como vocês analisam a repercussão destes 3 álbuns gravados em 5 anos de carreira?

Bom, a demo e o EP estão esgotados, e temos tido uma ótima resposta com o BFT, pois sempre levamos cópias em nossos shows para quem quiser comprar e conhecer melhor nosso trabalho, e a galera, no show seguinte, sempre vem comentar uma ou outra particularidade do CD. O pessoal sempre nos recebeu muito bem em todas as cidades que estivemos, e esses trabalhos ajudam a banda a continuar tocando de cá pra lá. Consideramos que eles serviram bem o propósito para o qual foram criados, que era o de mostrar o nosso som.

M.P.: Apesar de ser uma banda relativamente nova, os integrantes são músicos experientes, tendo tocado em outras bandas e até mantendo bandas paralelas, como é o caso de Ulysses(b/v) pelo Faces Of Madness e Amaury pelo Reality Death. O fato de vocês serem músicos “das antigas” influencia de que maneira nas composições das músicas?

Disciplina é um diferencial para a banda como um todo quando se tem experiência. Trabalhamos com um foco definido: na maioria das vezes um “esqueleto” que o Thales monta é trabalhado nos ensaios e idéias de todos são incorporadas no arranjo durante o processo de finalizar a música. Fazemos isso porque vimos que esse método é mais simples e eficaz, sem muita confusão – comparado com o tradicional “todo mundo aparece com um monte de riff e no ensaio a gente vê como montar a música”. Todos os integrantes da banda já experimentaram em outras bandas (Destroçus, Dr. Rock, Reality Death e Faces of Madness) outras maneiras de focar o trabalho, não só composições próprias, mas pra tudo que a banda fizer.

M.P.: Por falar em outras bandas, o ex-baterista do Gammoth, Ivan Goetschi chegou a tocar no Claustrofobia bem no início da banda, certo?

Ah sim, os caras sempre foram muito amigos nossos e, sendo Leme uma cidade relativamente pequena, acaba tendo esse “intercâmbio” com as bandas. Foi bem no início do Claustro que o Ivan tocou, inclusive chegou a gravar a demo “Saint War” com eles.

M.P.: É notável uma presença Thrash oitentista e também Black Metal em suas composições, talvez seja esse um dos principais motivos pelo qual o Gammoth se diferencia dentre muitas bandas que soam repetitivas. Qual é a proposta do som da banda?

Todos nós apreciamos o metal em várias formas, desde Heavy e Thrash Metal, passando por umas coisas mais Black e Death Metal, Splatter/Gore e até Punk oitentista. Cada um com suas preferências individuais, mas sempre concordando em manter essas influências bem de leve no Death Metal Tradicional; mas quando aparece um riff mais Black Metal ou uma passagem de Thrash Oitentista pro meio, a gente faz questão de acentuar, porque é de nossa opinião que encaixa muito bem com o Death Metal. Então, pode-se dizer que o Gammoth é um Death Metal tradicional com influências de Black e Death Metal.

M.P.: Após a saída do baterista Ivan, como foi que vocês chegaram ao Amaury? Foi difícil encontrar alguém que se encaixasse bem no estilo da banda?

Foi difícil não só porque o estilo da banda é um dos piores que existem pra achar baterista (pelo menos aqui no Brasil), mas também porque desde a saída do Ivan, estamos tentando dar umas direções mais carniceiras, rápidas e dissonantes para o som ultimamente. Mas por outro lado demos sorte, porque o Amaury já havia entrado em contato - meses antes do Ivan sair - com o Carlinhos, quando o Reality Death se separou. Ele num agüentava mais ficar sem tocar. Quando vimos que o Ivan teria que sair mesmo, pra poder trabalhar na Suíça, a gente foi entrando em contato e ensaiando bastante até estabilizar denovo a formação.

M.P.: E como foi ou como está sendo a adaptação dele à banda e vice-versa?

Como foi dito, a banda como um todo está em leve processo de mudança, para aproveitarmos um novo estilo de bateria que o Amaury proporciona. Claro que para ele o choque inicial foi maior, porque ele vinha duma banda que tocava um som mais arrastado, com influências fortes de Doom, e quando ele chegou a gente já jogou pro colo dele uns CDs do Cannibal, Napalm e Morbid pra ele ir se acostumando com a idéia... mas já está tudo estabilizado na medida do possível e estamos agora nos esforçando para terminar de compor nosso segundo álbum.

M.P.: Sobre as letras da banda, creio que seguem a linha do Death Metal tradicional, tipo splatter. Porém algumas mostram muito bem o lado religioso de vocês, ou melhor, o lado ateu, como a própria música “Atheistical”. Comente um pouco sobre os assuntos abordados pelo Gammoth.

Essa parte ficou mais a cabo do Ulysses, mas há um consenso na banda sobre a direção que será tomada nas letras, e não acreditamos em deus, o que acabou originando a idéia de comentar isso com a “Atheistical”. Ela é em parte baseada nos escritos do filósofo Friedrich Nietzsche, que criticam muito a instituição religiosa, e também mostra um pouco a visão do nosso desgosto ante à exploração econômica e psíquica que a religião e a mentira proporcionam. Via de regra, as letras seguem uma linha mais gore, algo como as primeiras letras do Barnes pro Cannibal, como em “Baptized in Feces”, “Raping the Retarded” e “The Surgeon”... sobram a “Epidemic”, que versam sobre a peste que dizimou a população européia e asiática nos idos de 1347, e a “No Glamour in Plain Murders”, que é uma homenagem ao antigo filme gore mais copiado ultimamente: O Massacre da Serra Elétrica.

M.P.: No encarte há a informação de que “Raping The Retarded” foi baseada em uma confissão de um enfermeiro, o que deixa a letra ainda mais chocante...

Cara, essa letra é nojenta... e é baseada nas loucuras de um serial killer russo que trabalhou em vários hospitais, e num deles estuprou crianças da ala de doentes mentais. Esse cara chegou a matar por volta de 20 pessoas antes de ser preso. Por ser europeu, é pouco conhecido, mas existem vários outros casos de serial killers médicos e enfermeiros, e o mais absurdo é justamente um profissional da saúde se portar dessa maneira e fazer coisas tão grotescas.

M.P.: Os 3 álbuns do Gammoth foram gravados na cidade de Leme-SP, sua cidade natal. Porém a produção do debut é a que mais chama a atenção, obviamente é o mais trampado, tanto na parte musical quanto nas artes gráficas, que teve um resultado final de alta qualidade. Como rolou a composição do encarte, capa, etc.

O Carlinhos tem muita experiência nessa área de manipulação de imagens e artes gráficas, então ficou fácil para a banda exprimir suas idéias e para ele – sendo também um membro da banda – colocá-las no encarte. É uma mão na roda, porque todos os detalhes (logo, diagramação, etc) ficam nas mãos de alguém em quem confiamos. Você pode ver o resultado lendo as letras, pensando no nome “Blunt Force Trauma”, ouvindo a música e vendo toda aquela carne, ossos e sangue na capa: são várias representações das mesmas coisas.

M.P.: Fale um pouco sobre as gravações, e do estúdio que vocês já viraram clientes.

O Mapa Studio é um lugar muito bem projetado e os caras que lá trabalham são muito competentes. Um importante fator para termos um bom resultado é fazer amizade com quem você está trabalhando, e o Paulinho, o Madela e toda a equipe lá são gente-boa pra caralho. Como temos idéias pré-definidas para nossos trabalhos, e o pessoal do Mapa sempre esteve aberto a nossos experimentalismos, conseguimos trabalhar sossegados e chegamos a um produto final que nos agrada.

M.P.: No Brasil é difícil sobreviver tocando Metal, é preciso meter as caras e cair na estrada pra poder “vender o peixe”. Após o lançamento do debut, como tem sido a agenda de shows do Gammoth?

Sempre tentamos conciliar a banda com nossas vidas pessoais pois, como você disse, é difícil demais sobreviver tocando metal, então temos que separar um tempo pra trabalhar, outro pra tocar. Sempre de fim de semana, temos tocado muito pelas cidades do interior de São Paulo e em algumas ocasiões saímos do Estado (Alfenas Bloody Metal Fest, por exemplo) e tem sido do caralho conhecer novas cidades e fazer amizades com o pessoal. Esse ano tivemos um período de “férias forçadas” em que escassearam os shows pelo fato de nosso guitarrista Thales ter viajado a trabalho por oito meses para a Bahia, mas agora estamos voltando com força total pra num deixar a galera esquecer que tem uma banda de Death Metal por aí chamada Gammoth.

M.P.: E como foi abrir o show do Candlemass em São Paulo?

Foi dahora. Shows grandes assim – principalmente festivais - são complicados para bandas não tão conhecidas como o Gammoth. A oportunidade que recebemos foi muito boa e fizemos de tudo pra estar à altura, mesmo só tocando em primeiro lugar e por 20 minutos. Mas foi muito bom, de qualquer maneira, participar de um evento desse porte e estamos ansiosos para tocarmos em outros.

M.P.: Vocês gravaram um cover do Vomitron como um bônus track do Cd. Conte-nos um pouco sobre essa relação com Gordum e Necroestupror.

São conhecidos nossos, mas o fator que levou-nos a colocar a cover no álbum foi a letra daquela coisa. A letra é uma desgraceira blasfema e muito engraçada. A música tem uma veia meio grind, o que a torna “curto e grossa”. Quem nos conhece sabe que não estamos aqui pra passar imagem de mauzão por aí, que nosso negócio é tocar Death Metal e beber quanta cerveja pudermos e colocar uma música nesse estilo foi meio que um aviso pra o que vinha pela frente.

M.P.: Chegaram até a duvidar da seriedade do Gammoth devido ao fato de dizerem que o Vomitron não passa de uma brincadeira...

O que aconteceu foi que a revista achou que éramos os mesmos músicos do Vomitron só porque colocamos essa cover no álbum. Tudo bem que o Vomitron é uma banda até certo ponto desconhecida, é ultra podrona e bem largada; mas o fato de termos colocado uma música que curtimos em nosso álbum não pode ser a base de alguém que se diz crítico de música para inferir que somos a mesma banda. Vendo por essa lógica, gravamos no EP uma cover da Greed Killing, que gravamos nas seções do Blunt Force Trauma: agora somos um “projeto paralelo” do Napalm Death?

M.P.: Parabéns pelos trabalhos que vocês vem realizando, muito obrigado por nos conceder esta entrevista e deixe um recado para os fãs do Gammoth e headbangers do Brasil.

Primeiro de tudo, gostaríamos de agradecer pela oportunidade de poder conceder essa entrevista, ainda mais por ser para o Morticínio Produções, porque vocês têm feito um trabalho foda de apoio ao underground, e isso é louvável. Queríamos agradecer também a todas as pessoas que acompanham o Gammoth nesses anos fodidos de suor, sangue e cachaça... E pra galera que curte ouvir Death Metal em alto volume: ouçam Death Metal, bebam cerveja e comam churrasco!

Segundo Ulysses(b/v):

M.P.: Música que gostaria de ter composto

A Mansion in Darkness do King Diamond

M.P.: Melhor título de música

The Day the Dead Walked do Six Feet Under

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