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terça-feira, janeiro 29, 2019

Entrevista com Crystal Lake


Fundada no ano de 1999 na cidade de Leme, interior de São Paulo, a cerca de 200 quilômetros da capital paulista, o Crystal Lake é daquelas bandas que tem a paixão pela música e pelo som pesado como alicerce. Bebendo de fontes da nova e da velha escola, construíram uma identidade forte com o Thrash Metal falando alto e batalham contra as dificuldades de se manter uma banda ativa após tanto tempo. Batemos um papo com o baterista e um dos fundadores da banda, Heraldo Habermann. Confira a entrevista abaixo: 

No próximo ano, a banda completará vinte anos de sua fundação. É uma data importante para os irmãos Habermann, que são membros desde o início? Vocês pensam em algo especial para comemorar a data?

Heraldo: Cara, fazer metal no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, profissionalmente ou não, não é tarefa fácil e completar 20 anos de estrada, mesmo com um hiato de alguns poucos anos é uma satisfação enorme. Com certeza queremos fazer um evento bem descontraído, chamando para participar amigos e antigos membros da banda desse período todo. Churrascão e muita diversão, acho que essa seria a melhor forma de carimbar essa data tão importante, ainda mais com um novo álbum ou EP para comemorar a data sendo lançado nesse evento. Estamos focados para que dê certo. Tomara que as coisas fluam para de fato acontecer.

Falem um pouco sobre o início da banda, no fim dos anos 90 e como era a cena de Leme e região naquela época.

Heraldo: Leme sempre teve uma cena muito forte desde os anos 80 e algumas bandas que marcaram época, como o caso dos Destróçus, Inner Fear, Techton, Leviathan e o inicio do Claustrofobia, hoje banda internacionalmente conhecida e teve sua base em Leme, dentre outras que foram total influência pra gente. Começamos aprendendo a tocar e já nos primeiros ensaios e dentre alguns covers começamos a criar. Ser banda autoral desde o início foi o objetivo. Somos gratos por ter começado em Leme, pois a cena do interior de São Paulo sempre foi muito forte e contribuiu muito para a banda conseguir ter um nome e se segurar no undergound. Ribeirão Preto era uma segunda casa pra gente. Ótimos tempos!!

Vocês batizaram seu primeiro registro de “Born to the Underground” e no encarte, existe a frase “A união das bandas fortalece o underground”, aparentemente uma mensagem valorizando e pedindo união na cena headbanger. Como vocês enxergam essa união nos dias de hoje?

Heraldo: Cara, antigamente era mais “difícil” ter contatos com pessoas de outras cidades, outras bandas, conseguir tocar, mandar matéria pra ser chamado e ser conhecido. E a galera pra conseguir conhecer um som das bandas da região tinham que ir até o show pra comprar o material e levar para casa e a união de uma banda de uma cidade com a de outra fazia tudo acontecer. A cena se fortalecia. Metal nunca foi e nunca será competição. Hoje em dia acho que até melhorou nos últimos anos, mas no início da internet e como ela é hoje, a cena deu uma caída, pois era muito fácil ouvir as bandas, as mesmas tinham mais facilidades de gravar e conseguir divulgá-los, não dependendo muito de uma apoiar a outra. Muitos eventos tradicionais deixaram de existir pois o público já não ia com tanta frequência, pois era fácil ouvir em casa. Hoje parece que uma pequena resistência de bandas se uniu pra turnês e começou novamente, onde uma ajuda a outra para as duas poderem tocar, dividindo custos e tudo mais.

Por que a banda ficou tanto tempo parada e o quê os motivou a voltar?

Heraldo: O Crystal Lake nunca acabou, mas motivos profissionais de todos os integrantes na época estavam fazendo com que ensaiássemos menos, tocássemos menos e também pelo tempo juntos com ninguém sendo mais “muleque” descompromissado acabava desgastando um pouco e não sendo prazeroso como já tinha sido um dia, pois a cabeça dividia a diversão com compromissos pessoais. Poucos ensaios e as apresentações não tinham aquela energia e após 11 anos ininterruptos demos uma pausa. Pausa natural, sem ser combinado, simplesmente aconteceu de ficar sem nos encontrar por meses e ai acabou ficando em pausa.
Voltar também foi um processo natural. As coisas foram se encaixando na vida pessoal de todos e de um ensaio para brincar, totalmente enferrujados, acabou virando parte das nossas vidas novamente. Felizmente!!

Como foi estar de volta aos palcos após cerca de cinco anos afastados?

Heraldo: Frio na barriga, adrenalina e uma felicidade extrema, foi essa a minha sensação em particular. Ali estava novamente fazendo o que gosto de fazer, mas sem o peso e o estresse de outros tempo. Pura diversão a serviço do metal, sensação de manter a cena e a história viva.

Como vocês comparam a época de lançamento do “Terror Machine” com o lançamento do “Death Row”? Há planos para lançamento físico do novo álbum?

Heraldo: Terror Machine é um álbum muito importante pra gente. Estávamos, acredito eu, na melhor forma e com o foco total na banda. Ensaiando sempre, focados em fazer um bom trabalho. Trabalho esse que poderia ter sido melhor realizado devido a nossa falta de experiência em estúdio e gravação profissional. Acho que a grande diferença do Death Row foi a produção e a descontração no processo de criação e gravação. A produção ficou a cargo de Daniel Bonfogo, hoje ex-baixista do Claustrofobia. Acredito que foi fundamental toda a experiência que ele trouxe pra gente durante todo o processo.

Crystal Lake - Death Row (2018)

O som do Crystal Lake tem uma base de Thrash Metal, mas há elementos de Hard Core, Death e até Heavy Metal em suas composições. Mesmo com alterações na formação, a essência da música é a mesma desde a demo “Born To The Underground”. A que se deve essa “fidelidade musical”? É algo planejado do tipo “vamos compor somente material nessa linha” ou as coisas fluem naturalmente? Por fim, fale um pouco sobre o processo de composição.

Heraldo: Acho que flui naturalmente. Desde a demo em 2003 a banda criou essa identidade. Após isso o guitarrista Murilo Januário assumiu as cordas e parece que ele já cria os riffs pensando em como eu costumo realizar minhas linhas de batera. Aliás ele é o maestro e o grande criador das primeiras notas. O resto a banda vai fazendo sempre juntos, mas geralmente é ele que chega com as principais ideias.

Ainda que a essência da banda seja a mesma, a banda soa diferente, mais madura talvez, em “Death Row”. Essa diferença se deu graças à produção do álbum? Como foi trabalhar com Daniel Bonfogo produzindo o CD?

Heraldo: Sim, acredito que a produção tem muito a ver com o resultado final. Foi totalmente diferente, descontraída e entre amigos de infância o que facilitou demais. O Daniel teve muita paciência com os “velhos enferrujados” (risos).  Fizemos a pedido dele uma pré-produção, onde realmente ouvimos como estava soando nosso som e isso fez toda a diferença. Ele não participou das composições, mas durante as gravações lapidou muita coisa. Foi bem legal contar com a experiência dele.

Vocês já estiveram três vezes ao lado do Krisiun e já foram a banda de abertura do Paul di Anno, ex-vocalista do Iron Maiden, além de já terem se apresentado ao lado de grandes nomes do metal underground. Como foram esses momentos para vocês? Há algum especialmente marcante?

Heraldo: São momentos realmente marcantes, principalmente quando se é mais novo, pois estar cara a cara com pessoas que te influenciaram durante sua formação é incrível. Pra mim em particular um momento especial foi em 2004 em Vinhedo/SP na casa de shows chamada Adler, pois era o primeiro grande show que fiz com a casa lotada e ao lado de uma das maiores bandas de Death Metal do Brasil e do mundo, o Krisiun. Ter camarim com tudo que as bandas tem direito, ver estrutura de palco, som, iluminação, telões em torno do palco. Realmente foi uma noite incrível.    

Em 2007, vocês estiveram no Estado do Acre. Como foi a experiência de se apresentar em um local tão longe de casa e pouco assediado por grandes eventos de metal? Há alguma diferença de público, organização de shows, etc?

Heraldo: Cara, a cena lá é incrível!!! Os caras realmente curtem metal e se desdobram para os eventos acontecerem. Conhecemos algumas lendas da região, caras que vivem pelo metal e rock and roll desde sempre. Galera unida que mantemos contato até hoje. A casa onde aconteceu nosso show estava lotada, mesmo com muita chuva e a galera curtiu do começo ao fim o evento. De verdade, sabíamos que estava em um estado tão longe de São Paulo, porém não notei diferença da cena de lá e daqui. Talvez lá a galera até dê mais importância e apoio aos eventos do que os Headbangers de internet que temos por aqui (risos).

Quais são os planos da banda para um futuro próximo?

Heraldo: A ideia é existir e sempre contribuir para que a cena e o metal nunca perca suas forças. Todos temos nossos compromissos pessoais mas gostamos do que fazemos. Ensaiar, gravar e tocar ao vivo quando nossas agendas pessoais nos permitir é o que vamos fazer e espero que por mais 20 anos ou mais (risos).

Muito obrigado pelo tempo cedido. Desejamos muitas conquistas e sucesso à banda. O espaço é de vocês.

Heraldo: Agradeço o apoio incondicional do Morticínio desde os anos 90 e por sempre estar divulgando bandas e o metal nacional. Vida longa ao Crystal Lake, vida longa ao Morticínio e claro ao Metal nacional!!

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